Separação: a arte de ressignificar e reconstruir

Separação: a arte de ressignificar e reconstruir

Falar, ou mesmo viver o processo de separação deveria ser uma tarefa natural e inerente a todo ser humano. Afinal, nos separamos o tempo todo, a partir do momento em que nascemos. Nos separamos do ambiente acolhedor e seguro do ventre da mãe, nos separamos das fases da vida para seguir o rumo natural, infância, adolescência e maturidade.

Velhos amigos ficam para trás, parentes morrem, empregos se vão. Enfim, nada mais familiar à nossa existência neste plano, não é mesmo? Pois, ao contrário do que seria de se esperar, a resposta é não. A separação é um dos processos mais complicados e dolorosos para a maioria das pessoas.

E quando falamos do tipo mais clássico de separação, a do relacionamento, do casamento, aí tudo fica ainda mais complicado. Quando vivenciamos um processo de separação em uma relação, imediatamente experimentamos uma gama enorme de sensações intensas e difíceis de lidar.

E quanto maior foi o tempo que se ficou junto, mais intensos os sintomas:

  • Dor da ausência
  • Sensação de fracasso
  • Vazio existencial
  • Rejeição
  • Transformação repentina do cotidiano
  • Culpa

E a lista poderia continuar indefinidamente de acordo com o grau de dependência emocional existente entre ambos.

Mas fui eu que terminei, vou passar por isso também?

Claro. Independentemente das circunstâncias, de quem tomou a iniciativa da separação do casal, nunca deixará de existir a sensação de fracasso de um projeto. Pois para uma das partes os sinais de crise e afastamento podem ser mais do que evidentes, ao mesmo tempo que para a outra pessoa envolvida tudo está seguindo normalmente, dentro de padrões que acha ajustados na dinâmica daquela relação específica. E aí vem o choque, emoções afloram, discussões desgastantes e intermináveis parecem cotidianas até que o processo de separação de corpos (e esse é apenas o primeiro passo de uma separação) dê início aos outros processos que vêm a seguir: emocionais, de luto, revolta, ódio, saudade, muitas vezes vivenciados ao mesmo tempo.

E não podemos negar que processos mais traumáticos, quando existe uma traição no contexto da separação do casal, por exemplo, podem ser ainda mais complicados e dolorosos. Filhos, bens materiais, tudo se torna rapidamente fatores complicadores que não raro acabam com o envolvimento de advogados e longos processos judiciais.

Mas então, o que fazer se não quero mais continuar em uma relação?

É evidente que não existe uma fórmula mágica e que seja possível em qualquer caso ou circunstância. No entanto, a maneira mais respeitosa e madura de se lidar com uma separação é com verdade e transparência.

Não subestimar a inteligência racional ou emocional do parceiro é o primeiro e fundamental passo. Se houver possibilidade, não dispense ajuda terapêutica. O processo de separação pode ser extremamente traumático para pessoas mais frágeis e sensíveis, portanto a mediação de um especialista em saúde mental (psicóloga(o), analista, terapeuta de casais) vai facilitar bastante o processo.

Separação de um casal leva a um processo de luto?

Sem dúvida. Não nos esqueçamos: é a partida de uma pessoa querida. E embora costumemos associar esse processo quase sempre á morte de alguém, é fundamental entendermos que o luto é uma fase psicológica que precisamos vivenciar para superar qualquer experiência de perda. Tanto é verdade que as mesma fases que experimentamos quando morre uma pessoa próxima, segundo a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross, vivenciamos quando vivemos a dor da separação:

  • Negação
  • Raiva
  • Barganha ou negociação
  • Depressão
  • Aceitação

Além disso, sempre vai haver lugares, filmes, músicas, datas (aniversários da pessoa ou do relacionamento), amigos em comum que servirão como “gatilhos” por um bom tempo e levarão a sofrimento até que o ciclo do luto (natural e necessário) finalmente se complete.

Ressignificar a experiência da separação: o primeiro passo em direção à cura

Passados os momentos mais intensos de dor e desorientação causados por uma separação, aos poucos é possível racionalizar tanto a experiência do relacionamento quanto do processo de separação em si.

Ressignificar quer dizer dar novo significado às coisas. Chamar a pessoa, as situações vividas durante a relação e a separação pelos nomes que elas realmente têm pode ser um primeiro passo importante. Será que aquele amor intenso e inexplicável, repleto de discussões acerca de ciúme, na verdade tenha sido apenas apego excessivo, carência afetiva e sentimento de posse?

Não é possível que aquele parceiro temperamental, que gritava e elevava o tom da discussão por qualquer motivo, na verdade não tenha sido uma pessoa tóxica e abusiva em sua vida?

Encare essas experiências e toda a jornada do relacionamento e o processo de separação como um ganho de vivência, que irá lhe tornar uma pessoa mais madura para um próximo relacionamento que, acredite, virá.

O processo de reconstrução pessoal após uma separação

O processo de reestruturação após uma separação pode ser lento. Temos que reconhecer que é irreal um cenário em que um se vire para o outro e diga:

  • Acho que esta relação não tem futuro.
  • Sabia que eu também acho?
  • Então… separação?
  • Sim e super amigável!
  • Claro, amigos pra sempre.

É óbvio que esse é um cenário de ficção. O processo de separação envolve egos feridos, acusações mútuas e muita mágoa. Mas, como nada, bom ou ruim, dura para sempre, isso passa. E aí tem início a reconstrução desse novo eu, desse novo ser humano mais experiente, mais “casca-grossa” e assertivo.

Esse processo começa, invariavelmente, com a reconstrução da autoestima. A autoestima é a primeira vítima em uma separação. Aprenda a se amar de verdade, mais ainda do que a quantidade de amor e cuidado que você dedicou àquela pessoa que simplesmente um dia virou as costas aos seus sonhos em conjunto e foi curtir a vida.

Vá viver a sua, intensamente, só ou acompanhada(o), seja diariamente a melhor versão de si mesma(o) e uma companhia perfeita para se passar as próximas 24 horas. Não se separe de você mesmo, você sempre terá que ser sua melhor companhia, estando ou não com outra pessoa. Pés no chão, toda reconstrução começa pela base. Lembre-se, quem se ama atrai amor.